segunda-feira, 19 de março de 2018

Eis como o turismo no Pico é diferente


Ao longo dos últimos anos, a Região Autónoma dos Açores tem vindo a apostar no turismo associado à natureza, uma forte imagem de marca que tem trazido cada vez turistas a este arquipélago atlântico. Todas as nove ilhas têm belezas fantásticas e, acima de tudo, complementam-se, ou seja, só se conhece verdadeiramente os Açores depois de se visitar todo o arquipélago.

Por outro lado, e devido a estas diferenças entre as ilhas, é natural que o tipo de turista varie um pouco de ilha para ilha. Esta distinção não deve ser olhada como um factor negativo, mas sim como uma forma de perceber como se pode potenciar as mais-valias de cada ilha, ajustando-as melhor a quem as procura. A título de exemplo, existem ilhas mais procuradas por portugueses e menos por estrangeiros, enquanto noutras se verifica a situação inversa; entre os estrangeiros, há ilhas que recebem mais falantes de língua inglesa, ao passo que noutras ouve-se mais o espanhol. Assim, com este tipo de informação detalhada por ilha, os respetivos empresários associados ao turismo podem satisfazer melhor quem os procura e valorizar ainda mais a experiência de conhecer os Açores.

Considerando o que foi mencionado anteriormente, torna-se interessante analisar alguns dados estatísticos relativos ao turismo nos Açores, de forma a perceber algumas particularidades das respetivas ilhas. De entre as várias estatísticas disponíveis, as dormidas são o melhor indicador para perceber qual o tipo de pessoa que mais tempo permanece nas ilhas açorianas, além de que quanto maior o número de dormidas, maior o proveito para a economia regional. Deste modo, e recorrendo aos dados das dormidas nos Açores respeitantes ao ano de 2017, divulgados pelo Serviço Regional de Estatística, apresenta-se de seguida uma análise que permite evidenciar como o turismo varia de ilha para ilha.

Começando pelo tipo de alojamento, pode-se fazer uma distinção entre a hotelaria tradicional (hotéis e similares) e os outros tipos de alojamento, como o turismo no espaço rural, o alojamento local, o campismo, etc. Ao nível de cada ilha, a distribuição entre estes dois tipos de alojamento é bastante díspar: enquanto que nas ilhas Graciosa, Terceira e São Miguel verifica-se que mais de três quartos das dormidas foram efetuadas em unidades de hotelaria tradicional (87%, 82% e 78%, respetivamente), as ilhas do Pico e das Flores destacam-se por serem as únicas onde mais de metade das estadias (51% em ambos os casos) foram efetuadas em outros tipos de alojamento.


Atendendo agora à nacionalidade dos turistas, é possível analisar qual a proporção entre visitantes portugueses e aqueles que são estrangeiros. Mais uma vez, as estatísticas revelam algumas diferenças dentro do arquipélago açoriano: as ilhas Graciosa, Corvo, Santa Maria e Flores receberam mais portugueses (80%, 70%, 68% e 56%, respetivamente), enquanto as restantes foram mais visitadas por estrangeiros, sobressaindo novamente a ilha do Pico por ser a única onde praticamente dois terços das dormidas foram efetuadas por estrangeiros — mais precisamente 65%, o valor mais elevado nos Açores.


Tendo em atenção as duas análises anteriores, comprova-se que a ilha montanha tem um tipo de turismo diferente: o Pico assume-se claramente como um destino onde as pessoas preferem ficar longe de hotéis e que atrai muito mais estrangeiros do que portugueses. De entre todas as dormidas efetuadas na ilha montanha, destacam-se as seguintes: 22% de alemães, 8% de franceses e 5% de holandeses, o que perfaz um total de 35% (tanto quanto a percentagem das dormidas efetuadas por portugueses). O caso do turista alemão que visita o Pico é igualmente único no contexto açoriano: mais nenhuma ilha tem uma percentagem igual ou superior a 20% nas dormidas em relação a uma só nacionalidade que não a portuguesa. Esta constatação mostra igualmente como na ilha montanha vale bem a pena ter em língua alemã várias informações associadas ao turismo, como sejam placas informativas ou menus de restaurantes.

Até agora, as análises foram efetuadas em termos percentuais e por ilha. Contudo, e atendendo a valores absolutos do total regional, o Pico obteve igualmente alguns resultados interessantes. Por exemplo, o segundo maior número de dormidas de alemães nos Açores foi obtido na ilha montanha (8% do total registado na Região, apenas superado pelos 74% registados em São Miguel) — saliente-se que, após os portugueses, os alemães constituem o maior grupo de turistas que visitam os Açores.


Por outro lado, o Pico registou as segundas maiores receitas obtidas na Região no que se refere ao turismo no espaço rural (22% do total obtido nos Açores, apenas superado pelos 34% de São Miguel).


Por fim, ao turismo normalmente está também associado o transporte aéreo, pois o mesmo serve como principal porta de entrada nos Açores. Se se atender ao número de destinos e frequências que servem as diferentes ilhas, o Pico pode ser considerado como a quarta ilha com as melhores acessibilidades com o exterior, depois de São Miguel, Terceira e Faial. No entanto, não só o Pico é a segunda ilha mais procurada por alemães, bem como se juntarmos as receitas do Pico e do Faial obtidas no turismo no espaço rural (um dos expoentes máximos do turismo de natureza), estas são superiores às obtidas em qualquer outro ponto da região. Assim, quando se fala em mais voos do exterior para o "Triângulo", não se trata de nenhum capricho, mas sim de reforçar a enorme procura que se verifica nesta zona do arquipélago. Além disso, quando se equacionar eventualmente mais voos (por exemplo charters) a partir do principal mercado emissor de turistas estrangeiros — a Alemanha — naturalmente a ilha do Pico terá de ser incluída na equação de definição de destinos; se porventura a limitação que se coloca a este tipo de operação é o insuficiente comprimento da pista do Aeroporto do Pico, então a análise ao turismo aqui feita afirma-se como mais uma razão para a sua ampliação.

Resumindo, os números não enganam: o turismo no Pico é diferente!

Haja saúde!

Post scriptum: Esta análise foi igualmente publicada na edição n.º 41.525 do 'Diário dos Açores', de 21 de março de 2018.

2 comentários:

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