segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Será a ilha do Pico a mais quente dos Açores?


A localização geográfica das ilhas açorianas, no contexto da circulação globalatmosférica e oceânica, condiciona o clima do arquipélago. A circulação atmosférica é comandada pelo Anticiclone dos Açores, cuja posição, intensidade, desenvolvimento e orientação influencia as condições meteorológicas sentidas no arquipélago.

Assim, o clima nos Açores é caracterizado por elevados índices de humidade do ar, amenidade térmica, taxas de insolação pouco elevadas (ou seja, a luz solar está habitualmente obstruída por nuvens), chuvas regulares e abundantes e por um regime de ventos vigorosos.

Em todo o caso, reconhecem-se as quatro estações do ano, típicas dos climas temperados. Os invernos, embora não excessivamente rigorosos, podem ser chuvosos. A ocorrência de neve ocorre apenas nas zonas altas, como é o caso da montanha do Pico. Os verões são amenos e mais ensolarados do que o resto do ano, contudo são raros os dias de céu completamente limpo. As temperaturas médias são de cerca de 13 °C no inverno e 24 °C no verão.

As diferentes ilhas açorianas apresentam características climáticas distintas, resultantes do seu enquadramento no sistema climático. Verifica-se um incremento da influência oceânica no clima das ilhas de nascente para poente (ou seja, de Santa Maria para o Corvo) e, dentro de cada ilha, existe uma estratificação altimétrica das condições climáticas, isto é, o clima varia com a altitude a que se está.

Também ocorrem assimetrias significativas no interior de cada ilha, relacionadas com a morfologia, com a estrutura geológica, com a vegetação e, em alguns casos, com a influência de ilhas vizinhas. Reconhecem-se nas diversas ilhas alguns locais com microclima, geralmente tropical a subtropical bem marcado.

No caso particular da Ilha do Pico, e atendendo à precipitação média, será menos provável haver chuva nas zonas costeiras, nomeadamente numa faixa junto ao mar que vai desde São Roque do Pico, passa na Madalena e termina nas Lajes do Pico, bem como na zona da ponta da ilha. Por outras palavras, estatisticamente haverá tendência para chover mais nas freguesias da Prainha, de Santo Amaro, da Calheta e das Ribeiras.


Curiosamente, existe outra zona da ilha onde também chove menos: a zona do piquinho, no topo da montanha do Pico, onde chove tanto em quantidade como nas zonas costeiras!

Em termos de vilas, na Madalena chove menos do que nas Lajes, e nesta última chove menos do que em São Roque do Pico. Todavia, existe nesta vila um microclima no lugar do Cais do Pico, fazendo desta zona uns dos locais com menos precipitação da ilha montanha.

Vale a pena salientar ainda que chove cerca de três a quatro vezes mais na zona do planalto central, designadamente junto às lagoas, do que na zona costeira. Aliás, é na lagoa do Caiado que se registam das maiores precipitações na ilha, inclusivamente mais do que nas lagoas do Capitão ou do Paul, percebendo-se melhor assim porque a do Caiado é a maior lagoa do Pico.

Passando agora ao tema do calor, qual será a resposta à seguinte pergunta: quais são, estatisticamente, as zonas mais quentes da ilha do Pico?

Ora bem, existem três zonas bem definidas onde a temperatura do ar média é ligeiramente superior às restantes; surpreendentemente, uma delas fica numa das zonas que não é daquelas onde chove menos.

Concretizando, a temperatura do ar é mais elevada na zona costeira da freguesia da Prainha, designadamente entre os lugares da Poça Branca e do Canto da Areia; é igualmente elevada na zona costeira da freguesia de Santa Luzia, designadamente entre os lugares do Cabrito e do Lajido; e, por último, a outra zona mais quente da ilha refere-se ao lugar do Cais do Pico.


É caso para dizer que o concelho de São Roque do Pico comporta as três zonas mais quentes da ilha montanha!

No entanto, e como não há regra sem exceção, o maior valor da temperatura máxima do ar registado no Pico foi na Madalena, designadamente 32,1 °C, no dia 7 de setembro de 1985. Todavia, esta curiosidade não se fica por aqui; este foi, até aos dias de hoje, o maior valor da temperatura máxima do ar registado nos Açores, pelo que, de certa forma, se pode considerar que o Pico é a ilha mais quente do arquipélago açoriano!

[Fontes: Geoparque Açores; Projeto CLIMAAT; IPMA]

Haja saúde!

Post scriptum: Este artigo foi igualmente publicado na edição n.º 901 do 'Jornal do Pico', de 13 de agosto de 2021.

3 comentários:

  1. Interessante não fazia ideia, sempre pensei que fosse Santa Maria.

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  2. Não concordo com o estudo. A parte leste da ilha fica sempre fora de todos os estudos. Por esperiencia própria, afirmo, que a zona da Calheta de Nesquim, junto da igreja , é dotado de microclima. Chove muito menos que em São Roque do Pico, menos vento, e tem uma temperatura muito superior. No inverno chega a dias ter a diferença de 4 graus. Agora no verão normalmente é de 2 graus célcios.

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  3. Em primeiro lugar, obrigado pelo seu comentário.
    Não podendo responder pelos autores do estudo (Projeto CLIMAAT), posso mesmo assim avançar que as figuras e dados indicados neste post corroboram as suas afirmações:
    - Na primeira figura (Precipitação mensal) é possível observar, tal como mencionado no texto, que a zona da ponta da ilha é uma daquelas onde menos chove no Pico; adicionalmente, e de forma particular, a zona da Calheta de Nesquim tem uma cor muito mais próxima do castanho claro (menos chuva) do que grande parte da Vila de São Roque do Pico (aliás, esta última é a vila da ilha montanha onde mais chove) [recordo que qualquer vila do Pico corresponde à mesma área da freguesia homónima respetiva, não ao concelho no seu todo];
    - Relativamente à temperatura, e tal como a segunda figura mostra (Temperatura do ar médio mensal), toda a linha de costa do Pico tem uma temperatura elevada; o que ocorre é que existem zonas ligeiramente mais distantes do que imediatamente junto ao mar (como a zona do Lajido ou a zona do Cais do Pico) onde é igualmente quente como na linha de costa — por outras palavras, saindo da zona do Cais do Pico a temperatura pode efetivamente baixar um pouco, mesmo uma pessoa mantendo-se na Vila de São Roque do Pico.
    Por fim, resta acrescentar que a temperatura do ar, para efeitos estatísticos, é sempre medida à sombra e sem vento; notando que, tal como diz, na Calheta de Nesquim há mais sol (por estar virado a sul) e menos vento, então uma simples medição da temperatura no exterior (por exemplo, recorrendo ao termómetro de uma viatura) pode dar resultados que correspondem à sensação térmica, mas não à realidade estatística — note-se ainda que, por este mesmo motivo, os 32,1 °C registados em 1985 são ainda mais impressionantes porque foram registados à sombra, o que significa que ao sol a sensação deveria estar próxima dos 40 °C!
    Haja saúde!

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