sexta-feira, 16 de junho de 2017

O novo “isolamento” das ilhas açorianas


A condição arquipelágica dos Açores faz com que o transporte aéreo seja fundamental para estabelecer ligações rápidas entre as diversas ilhas e entre estas e o exterior da Região. Com o aumento da mobilidade aérea dos açorianos, aliado ao profundo crescimento do turismo nos Açores, a taxa de ocupação nos aviões tem aumentado significativamente a cada ano que passa.

Esta procura por um bilhete de avião é mais intensa em julho e agosto — a época alta — a tradicional altura de férias, onde faz mais bom tempo, quando ocorrem diversos festivais de verão, etc., o que leva a um aumento de turistas, bem como ao regresso às origens de muitos açorianos deslocados da sua terra natal.

Deste modo, é com alguma naturalidade que na época alta existam muitos voos esgotados. Esta situação é um bom sinal para a economia do turismo, em particular, e para as restantes atividades económicas, em geral. No entanto, a lotação esgotada de todos os voos num só dia pode levar a que seja literalmente impossível a muita gente entrar ou sair de uma ilha, originando assim um novo tipo de "isolamento" das ilhas açorianas.

Interessa, pois, analisar que ilhas sofrem mais com este "isolamento", de forma a o tentar combater eficazmente. Para esse efeito, uma simulação de reservas foi efetuada no site da Azores Airlines (em 15 de junho de 2017) para todos os dias dos meses de julho e agosto do corrente ano e para todos os destinos que servem cada uma das ilhas dos Açores. Sempre que uma determinada ilha já não dispusesse de lugares disponíveis em todos os voos de um determinado dia, em pelo menos um sentido, foi então contabilizada uma situação de "isolamento". Os resultados obtidos estão espelhados nos gráficos seguintes (nota: no caso da ilha do Corvo, não existem voos aos fins de semana e por isso não são contabilizados "isolamentos" nesses dias por não advirem de voos esgotados).



Os resultados são claros: a ilha montanha assume um lugar de destaque em termos de dias de "isolamento", quer em termos de voos de chegada, quer no caso dos de partida. Aliás, e considerando o panorama geral dos Açores, quase metade dos dias, em julho e agosto, que já têm todos voos esgotados em pelo menos um sentido são de/para o Pico (10 em 22 = 45% do todo regional). Esta situação não é de todo inesperada, pois tem sido recorrente ao longo dos anos e também porque a ilha montanha registou, no ano passado, o maior crescimento percentual de passageiros aéreos a nível Açores. Tudo isto contribui para a ilha do Pico poder ser considerada como a mais propensa a registar "isolamentos" no arquipélago açoriano, ou seja, é aquela onde a procura supera mais vezes a oferta.

Mas alguns dirão que, pelo facto de a ilha montanha estar inserida no "Triângulo" (Pico, São Jorge, Faial) e por existirem viagens diárias de barcos entre estas três ilhas, estes "isolamentos" podem ser atenuados. Pois bem, a verdade é que esta sub-região é de longe a que mais sofre com o novo tipo de "isolamento" das ilhas açorianas, registando um total de 73% dos casos a nível regional. É importante ter esta situação em conta, de forma a definir políticas futuras que garantam que a mobilidade dos residentes está sempre salvaguardada, sobretudo em casos de força maior.

Os dados também servem para mostrar que a ideia de criar bases de distribuição de passageiros vindos do exterior da Região (em São Miguel ou na Terceira, por exemplo) não serve por igual todos os açorianos, pois estes "isolamentos" da época alta tornam evidente como várias ilhas seriam prejudicadas (sem possibilidades de acesso a essas bases devido a voos esgotados), sendo que, a manter-se a tendência atual, o Pico seria a ilha mais afetada.

Por fim, estas estatísticas comprovam mais uma vez que a ilha montanha continua a ser muito procurada, sendo que este destino é claramente o que esgota mais rapidamente nos Açores.

Resumindo, os números não enganam: o Pico está na moda!

Haja saúde!

Post scriptum: Esta artigo foi igualmente publicado na edição n.º 686 do 'Jornal do Pico', de 23 de junho de 2017.

2 comentários:

  1. Boa Tarde Ivo,

    Mais uma excelente abordagem ao problema que se tem verificado no aeroporto do Pico.

    Continuam a considerar que o aeroporto do Pico é apenas um aeroporto de suporte quando na verdade já se percebe que o Pico é um destino de eleição, afirmação que é suportada pelo estudo que recentemente publiquei onde se verifica um crescimento de 18% desde o início do ano e com menos voos do que no ano anterior. ( http://1641kmopiniao.blogspot.pt/2017/06/crise-no-aeroporto-do-pico.html ).

    Um abraço

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  2. Muito obrigado pelo comentário!
    Haja saúde!

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