quinta-feira, 21 de junho de 2018

Mais do que viagens, são decisões verdadeiramente extraordinárias!


A Atlânticoline, empresa pública açoriana de transportes marítimos, decidiu muito recentemente (há cerca de uma semana atrás) anunciar a realização de mais três viagens "extra" entre o "Triângulo" (ilhas do Faial, Pico e São Jorge) e a ilha Terceira, justificando as mesmas com a ocorrência das festas "Sanjoaninas" nesta última ilha, e recorrendo para o efeito ao navio 'Gilberto Mariano' — o qual efetua habitualmente o transporte regular de passageiros e viaturas no "Triângulo".

Mais concretamente, as três viagens em questão, entre os portos de Horta (Faial), São Roque (Pico), Velas (São Jorge), Calheta (São Jorge) e Angra do Heroísmo (Terceira), e vice-versa, foram programadas para os dias 18 de junho, 25 de junho e 2 de julho de 2018.

Em primeiro lugar, convém referir que as "Sanjoaninas" decorrem de 22 de junho a 1 de julho, o que significa que a viagem "extra" do dia 18 de junho ocorreu com bastante antecedência face aos dias de festa. Perceber esta antecipação de chegada às "Sanjoaninas" torna-se difícil, a não ser que existisse uma elevada procura por esta rota entre o "Triângulo" e a ilha Terceira...

Contudo, e segundo o que foi relatado nas redes sociais, nesta viagem "extra" do dia 18 de junho desembarcaram em Angra cinco (5) passageiros e embarcaram três (3)... Por outras palavras, o navio 'Gilberto Mariano' esteve várias horas fora do "Triângulo" (note-se que demora 3h a viagem, num sentido, entre a Calheta e Angra) para transportar somente oito (8) pessoas entre o "Triângulo" e a Terceira (isto já considerando ambos os sentidos)!

Não está em causa impedir uma ligação marítima entre o "Triângulo" e a Terceira, mas até considerando que não é possível desembarcar/embarcar viaturas em Angra no 'Gilberto Mariano', torna-se incompreensível o porquê de retirar um navio importantíssimo para a dinâmica do "Triângulo", reduzindo drasticamente o transporte de viaturas entre Faial, Pico e São Jorge, quando a Linha Amarela da Atlânticoline (que abrange todos os Açores, excepto o Corvo) também liga, por via marítima, estas três ilhas à Terceira (e permite o transporte de muitas mais pessoas, bem como o transporte de viaturas para todos os portos)!

Aliás, e atendendo às viagens "extra" de 25 de junho e 2 de julho, estas fogem completamente à lógica praticada pela própria Atlânticoline: nestes dias, através da Linha Amarela, é possível sair de (ou chegar a) qualquer ilha do "Triângulo" e chegar à (partindo da) Terceira, o que significa que existe duplicação da oferta!

Ora bem, a Atlânticoline tem o cuidado de evitar a duplicação da oferta na sua Linha Verde (que liga Faial, Pico e São Jorge) quando existem viagens equivalentes na Linha Amarela — o que, na prática, torna os horários nuns "horror-ários" verdadeiramente complexos, onde não existe regularidade na hora de escala (e às vezes nem no porto). Mas, pelos vistos, a empresa pública açoriana de transportes marítimos não aplica essa regra da não duplicação da oferta no caso destas viagens "extra"...

Resumindo tudo o que foi dito até agora, fica a questão se o dinheiro público está a ser bem aplicado com estas decisões; o mesmo deve servir para criar coesão entre ilhas, sendo que todos os intervenientes naturalmente têm de ceder quando os recursos são limitados — como é a situação atual, que se faz sentir com maior intensidade devido ao encalhe do navio 'Mestre Simão' em janeiro passado.

Por outras palavras, o navio 'Gilberto Mariano' deve estar maioritariamente a servir o "Triângulo", sendo que em situações excecionais também deve ligar a Calheta a Angra. Mas, então, quando é que se aplicam essas situações excecionais? A resposta é simples: em situações de procura intensa, como festividades, e onde não existe oferta disponível através da Linha Amarela. Um exemplo em concreto é dado pela própria Atlânticoline: nos dias 13 e 15 de julho estão previstas ligações do 'Gilberto Mariano' entre o "Triângulo" e a Terceira, numa altura em que decorre o "Festival de Julho" na Calheta e em dias onde os navios da Linha Amarela não escalam qualquer porto do "Triângulo" ou da Terceira.

Em suma, da mesma forma que se criticam as más decisões, também se elogiam as que fazem sentido; o que não se compreende é que seja a mesma entidade a dar, simultaneamente, bons e maus exemplos, bem como a criar exceções à sua própria política, isto tudo com custos para o erário público e, consequentemente, para todos nós.

Haja saúde!

Post scriptum: Segundo relatos nas redes sociais, bem como notícia da RDP-Açores, a viagem do dia 25 de junho transportou 7 passageiros entre Calheta e Angra, sendo que embarcaram 13 para fazer o percurso inverso...

Post post scriptum: Segundo mais relatos nas redes sociais, a viagem do dia 2 de julho transportou 19 passageiros entre Calheta e Angra, sendo que embarcaram 38 para fazer o percurso inverso...




4 comentários:

  1. As sanjoaninas justificam a viagem e a procura costuma existir. Há marchas de São Jorge que vão as sanjoaninas. No ano passado foram 2 e a filarmónica da Madalena. E de São Jorge costumam ir pelo menos 2 barcos privados uma da urzelina e outro da calheta nos fins de semana as sanjoaninas. Claro que se a rota não é promovida, não é agendada as pessoas não vão. As férias são programadas e agendadas nas empresas e nas coletividades. Relembro que a viagem de dia 18 foi anunciada no Facebook da Atlânticoline com apenas 24h de antecedência. Os turistas ou locais fizeram os seus planos talvez à um mês atrás. Uma rota regular teria procura porque teve no ano passado e tem sempre. Mas coisas feitas em cima do joelho para provar pontos políticos e agradar, não correm bem, nunca em tempo algum. Acho que a tua análise falha por não ter em conta a história desta linha, por por a rota Madalena Horta acima das rotas Angra e Calheta ou Velas São Jorge São Jorge esta extremamente isolado no contexto dos transportes. Sem ligações diretas ao exterior, sem barco que de pra ir pro Pico e pro faial e vir no mesmo dia, a horas decentes. Pior ainda no inverno que praticamente só tem um barco por dia. à parte disso, acho bem o Pico e o Faial provarem por 4 dias no ano o sabor que São Jorge vive o ano inteiro, para ir se melhore as ligações das 2 ilhas.

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  2. As de te lembrar que se o pessoal do pico vai ao faial ao médico o pessoal de São Jorge vai ao médico a terceira. E quando alguém está mal pra morrer tem que ser evacuado de helicóptero porque não há barcos nem aviões que nos salvem. Isso quando os médicos te mandam de helicóptero. Porque pessoas com AVCs esperam sem especialista de um dia para o outro para irem no único avião da SATA que há por dia ou pessoas que vão a consultas à terceira de barco porque não há aviões disponíveis. Estás falando de barriga cheia. Ainda ficaram com 2 barcos no faial para fazerem a ligação. Não percebo o problema.

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  3. Em primeiro lugar, obrigado pelo comentário.
    Na minha análise dei dois excelentes exemplos de como devem ser feitas ligações entre a Calheta e Angra, como são as que estão programadas para o Festival de Julho.
    Além disso, concordo que as alterações em cima da hora não permitem encher navios, daí a viagem de dia 18 não fazer sentido.
    Mais, quando referi que a Atlânticoline evita a duplicação de viagens no Triângulo, prejudicando sobretudo São Jorge, mas cria uma duplicação para a Terceira, estou a defender que deve haver mais ligações e mais regulares para São Jorge, sendo que isso não está a ser feito e esta ilha é servida por "horror-ários" em muitos dias.
    Sobre o historial da Linha Lilás, ele é positivo porque as viagens eram efetuadas às terças e sábados, dias onde a Linha Amarela não ligava a Terceira ao Triângulo - volto a frisar, não foi isso que a Atlânticoline programou com estas viagens extra, onde duplicou a oferta.
    Resumindo, não estou, nem nunca estarei, contra viagens extra, mas as mesmas têm de fazer sentido; as de 18, 25 e 2 não fazem, enquanto que as de 13 e 15 fazem todo o sentido.

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  4. Respeitando a opinião que cada um merece ter e deve exprimir, julgo que não entendeu o verdadeiro problema: a ausência do 'Gilberto Mariano' prejudica mais São Jorge do que qualquer outra ilha: Pico e Faial conseguiram transportar viaturas e passageiros, ida e volta, antes das 9h da manhã, enquanto São Jorge ficou privado de viagens mais rápidas e impossibilitado de transportar viaturas em alguns sentidos por várias horas.
    Ou seja, o problema de o 'Gilberto Mariano' ir à Terceira em dias onde não existe procura é que prejudica gravemente a dinâmica do "Triângulo", em especial São Jorge!
    Sinceramente, lamento que tenha usado expressões como "Estás falando de barriga cheia", quando eu apenas defendi, com factos, que retirar o 'Gilberto Mariano' do "Triângulo" deve ser feito em dias que façam sentido, sem haver duplicação de oferta.
    E, para terminar, até sugiro as datas em que tal poderia ter sido feito (seguindo o bom exemplo do Festival de Julho):
    21, 23, 26 e 30 de junho / 3 de julho.
    Haja saúde!

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