segunda-feira, 28 de maio de 2018

Pico em grande destaque na rota de serviço público aéreo com Lisboa em 2017


De entre as várias ligações aéreas entre os Açores e o Continente, existem três rotas que estão sujeitas a Obrigações de Serviço Público (OSP):
  • Lisboa / Santa Maria / Lisboa;
  • Lisboa / Horta / Lisboa;
  • Lisboa / Pico / Lisboa.
Atualmente, estas rotas sujeitas a OSP são operadas pela Azores Airlines, a qual integra o Grupo SATA — a transportadora aérea açoriana cujo único acionista é o Governo dos Açores. Assim, não só a SATA é, de certo modo, propriedade de todos os açorianos, bem como algumas das suas atividades podem ser alvo de análise por parte da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (ALRAA). Devido a esta última razão, e em resposta a um requerimento apresentado na ALRAA, a SATA disponibilizou várias estatísticas relacionadas com estas três rotas entre os Açores e o Continente, as quais permitem uma análise aprofundada à operação realizada no ano de 2017.

Começando pelo número de voos, foram realizados um total de 1.113 voos, distribuídos por 200 na rota envolvendo Santa Maria (-6 face a 2016), 650 nas ligações com a Horta (+17 face a 2016) e 263 na rota com o Pico (+11 face a 2016). Em termos de passageiros transportados, obteve-se um total de 122.150 passageiros, distribuídos da seguinte forma:
  • Lisboa / Santa Maria / Lisboa — 13.731 pax (+1.834 face a 2016);
  • Lisboa / Horta / Lisboa — 78.554 pax (+1.683 face a 2016);
  • Lisboa / Pico / Lisboa — 29.865 pax (+2.618 face a 2016).
Com base no que foi referido anteriormente, verifica-se que a ligação entre a capital portuguesa e a ilha do Faial (onde está o Aeroporto da Horta) concentra quase dois terços dos passageiros das rotas sujeitas a OSP, sendo que as rotas envolvendo as ilhas do Pico e de Santa Maria representam cerca de um quarto e um décimo, respetivamente, dos passageiros transportados. Estes valores são os esperados, pois estão em concordância com o respetivo número de voos efetuados para cada rota.

Por outro lado, e comparando a evolução entre 2016 e 2017, verifica-se que um maior aumento no número de voos não significou um maior aumento no número de passageiros transportados: se na rota de Santa Maria até houve um aumento nos passageiros transportados (+1.834) existindo menos voos (-6), na rota da Horta, onde houve o maior incremento no número de voos (+17), foi onde se registou o menor aumento nos passageiros (+1.683); no Pico, onde houve um menor incremento no número de voos (+11), verificou-se o maior aumento nos passageiros transportados (+2.618).

Outro dado estatístico interessante, e que foi tornado público, prende-se com o valor médio da tarifa. Como a tabela seguinte indica, a rota de Santa Maria foi, regra geral, a mais económica ao longo de todo o ano de 2017, apresentando, por isso, o valor médio anual mais baixo (81 €). No caso das outras duas rotas, o valor da tarifa média anual foi igual em ambas (95 €). Contudo, e focando a análise entre junho e setembro — são apenas quatro meses, mas representam um período de tempo onde viajaram cerca de metade dos passageiros, isto é, correspondem à época alta do turismo e onde muitos passageiros (porventura a maioria) são não residentes — a rota Lisboa / Pico / Lisboa foi a que registou sempre o preço mais elevado.

Valor médio da tarifa.

Atendendo ao caso particular em que as ilhas do Pico e do Faial são servidas por ligações marítimas regulares entre elas, quem pretende chegar, partindo de Lisboa, a uma destas duas ilhas (ou vice-versa), pode facilmente utilizar o aeroporto da ilha vizinha. Isto significa que, tendo em conta o ano de 2017, a ligação entre Lisboa e estas duas gateways do "Triângulo" foi mais económica via Pico nos meses de inverno, sendo que no verão tornou-se mais barato viajar via Faial.

Do ponto de vista de uma companhia de aviação, falta analisar um dos mais importantes dados estatísticos: a taxa de ocupação. Este normalmente resulta de uma conjunção de fatores — preço, horários, atratividade do destino, etc. — cuja relação entre eles não é de fácil modelação. Em todo o caso, a taxa de ocupação permite perceber qual o sucesso de determinada rota e a sua tendência evolutiva. A tabela seguinte apresenta a taxa de ocupação, em 2017, relativa às rotas sujeitas a OSP em análise.

Taxa de ocupação.

Se apenas for considerada a taxa de ocupação média anual, a rota da Horta apresentou o melhor desempenho (75%), seguida de muito perto pela rota do Pico (74%), sendo que a ligação com Santa Maria registou a pior taxa de ocupação média anual (56%). Contudo, e analisando os dados mensais, algumas das conclusões que se podem tirar são as seguintes:
  • A rota Lisboa / Santa Maria / Lisboa apresentou em 11 dos 12 meses de 2017 a pior taxa de ocupação;
  • O valor mais baixo de taxa ocupação foi registado na rota Lisboa / Santa Maria / Lisboa — 39% (março de 2017);
  • A rota Lisboa / Pico / Lisboa apresentou em 7 dos 12 meses de 2017 a melhor taxa de ocupação;
  • O valor mais elevado de taxa ocupação foi registado na rota Lisboa / Pico / Lisboa — 92% (julho de 2017).
Para além de taxas de ocupação médias anuais semelhantes nas rotas envolvendo o Pico e o Faial, note-se que em ambos os casos, e considerando cada mês de 2017, a taxa de ocupação nunca foi inferior a 54%. No caso do Pico, um outro destaque vai ainda para o facto de esta rota ter sido a única que ultrapassou a barreira dos 90% de taxa de ocupação, nomeadamente em julho e agosto de 2017, bem como nos meses de verão (de junho a setembro) foi a que apresentou sempre o melhor desempenho.

Por fim, torna-se também interessante analisar a evolução da taxa de ocupação média anual de cada uma destas rotas com Lisboa sujeitas a OSP, tendo por base os dados conhecidos para os últimos três anos completos (de 2015 a 2017) — vide gráfico.


Procedendo a uma análise por rota, é possível concluir o seguinte:
  • Lisboa / Santa Maria / Lisboa — Esta rota apresentou sempre a taxa de ocupação média anual mais baixa, mas este valor não só tem vindo sempre a crescer desde 2015, bem como foi a rota que teve o maior aumento, em pontos percentuais, na taxa de ocupação média anual entre 2016 e 2017 (+20 pp). Em todo o caso, vale a pena recordar que esta rota permanece, desde 2015 até ao presente, com a mesma frequência semanal (2 voos por semana), bem como na esmagadora maioria dos casos é efetuada uma escala em Ponta Delgada (ilha de São Miguel).
  • Lisboa / Horta / Lisboa — Esta rota, a mais antiga e mais consolidada das três em análise, apresentou sempre a taxa de ocupação média anual mais elevada. No entanto, esta rota parece ter estabilizado e o aumento de voos ao longo dos anos tem sido o adequado, pois desde 2015 que a taxa de ocupação média anual se mantém praticamente inalterada (teve apenas um pequeno decréscimo de três pontos percentuais de 2015 para 2016 e outro decréscimo de um ponto percentual de 2016 para 2017).
  • Lisboa / Pico / Lisboa — Esta rota, tal como a de Santa Maria, tem vindo a apresentar uma taxa de ocupação média anual sempre a crescer ao longo dos anos. Contudo, e ao contrário do que acontece com a rota de Santa Maria, o número de ligações Lisboa / Pico / Lisboa não só tem vindo a crescer, bem como foi suprimida, em 2017, a escala na ilha Terceira que existia em muitos dos voos.
Por outras palavras, o resultado da rota do Pico é ainda mais espetacular, ora vejamos: no caso de Santa Maria, houve mais passageiros transportados para aproximadamente o mesmo número de voos, o que naturalmente resultou numa maior taxa de ocupação; no caso da rota da Horta, houve mais passageiros transportados, mas também houve mais voos, o que deu origem a uma taxa de ocupação praticamente inalterada; no caso do Pico, houve mais voos, mas os passageiros transportados conseguiram crescer de tal forma (mesmo sendo a rota mais cara no verão) que mesmo assim a taxa de ocupação aumentou!

Resumindo, os números não enganam: o Pico está na moda!

Haja saúde!

Post scriptum: Esta análise foi igualmente publicada na edição n.º 41.577 do 'Diário dos Açores', de 29 de maio de 2018.

1 comentário:

  1. é uma vergonha como é que se reduzem voos no Faial e não se fazem mais voos no Pico para os fazerem em Santa Maria com ocupações miseráveis. Uma ilha que tem um terço da população do Pico. Enfim.

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