segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Sabia que o porto do Cais do Pico tem o maior metro quadrado do mundo?

O metro quadrado é a unidade padrão de área do Sistema Internacional de Unidades, sendo derivada da unidade básica metro. Por outras palavras, um metro quadrado corresponde à área que tem um quadrado com um metro de lado. Acontece que na vila de São Roque do Pico, mais concretamente no porto do Cais do Pico, as medidas parecem ser outras, ora vejamos...

No dia 14 de novembro de 2014 aconteceu um trágico acidente neste porto, vitimando mortalmente uma pessoa devido ao rebentamento de um cabeço de amarração [link para mais informações sobre este acidente]. Desde esse fatídico dia que a zona do cabeço que rebentou se encontra interdita por ordem judicial, sendo que, pelas informações que foram possíveis recolher, a área interdita corresponde a um metro quadrado - ver imagem seguinte.


Isto significa que nesta zona em particular "não se pode tocar" e, como não existe um cabeço alternativo que garanta a operação em segurança da rampa ro-ro com os navios Gilberto Mariano e Mestre Simão, a Atlânticoline não utiliza esta rampa com estes navios, diminuindo assim a qualidade de serviço, impossibilitando o transporte de viaturas e aumentando o número de cancelamentos devido à presença de navios porta-contentores no porto do Cais do Pico.

Parece que enquanto não houver nova decisão judicial, nada mudará e os residentes, empresários e turistas, sobretudo os que utilizam as ligações entre o Pico e São Jorge, continuarão a ser altamente penalizados [link para justificação detalhada desta afirmação]. Será que tem de ser mesmo assim? Analise-se agora outros factos...

O relatório sobre o acidente mortal no porto do Cais do Pico, efetuado pelo Gabinete de Prevenção e de Investigação de Acidentes Marítimos (GPIAM), afirma que uma das causas para o acidente foi "o posicionamento incorreto dos cabeços para utilização pelos novos navios ro-ro (Gilberto Mariano e Mestre Simão) que, de uma forma muito mais intensiva, desde março de 2014 passaram a demandar este porto e a ter de utilizar o cabeço em causa para a sua amarração obrigando ao uso de cabos de comprimento mais curto que o adequado" [link para este relatório]. Daqui conclui-se que, para garantir a segurança da operação destes navios, deve-se colocar um novo cabeço num local mais apropriado, sendo que espaço não interdito é o que não falta no porto do Cais do Pico - ver imagem seguinte, onde a amarelo está indicado a zona onde "não se pode tocar".


Então porque nunca se colocou um novo cabeço neste porto da vila de São Roque do Pico? A 13 de maio de 2015, o capitão do porto da Horta afirmava que os navios não utilizavam a rampa ro-ro deste porto por responsabilidade da Portos dos Açores. Em resposta, um responsável pela Portos dos Açores justificava não ter efetuado qualquer pedido de obras no porto do Cais do Pico por estarem a ser feitos testes sobre a capacidade de resistência dos cabeços de amarração [link para esta notícia]. Será que, passados mais de sete meses, ainda estão em testes???

E a empresa de transporte marítimo de passageiros que ficou afetada por não poder operar a 100% no porto do Cais do Pico com os navios Gilberto Mariano e Mestre Simão, que pressing fez para voltar a utilizar a rampa ro-ro deste porto? Cronologicamente, ocorreram as seguintes situações:
  • No inverno e primavera de 2015, quando um navio de carga de menor porte (da empresa Transportes Marítimos Graciosenses) efetuava serviço no porto do Cais do Pico, as escalas de passageiros eram logo canceladas [link para exemplo], sendo que estavam reunidas as condições para a operação em simultâneo dos diferentes navios [link para exemplo];
  • Em março de 2015, a vila de São Roque do Pico deixou de ser escalada diariamente para passar a ser apenas às sextas-feiras, sábados e domingos [link];
  • No início de maio de 2015, o horário previsto para o verão relativamente às ligações entre as ilhas do Triângulo (Pico, São Jorge e Faial) era um autêntico horror-ário por ser altamente confuso, sem regularidade nas horas e escalas, sobretudo no que respeitava a São Roque do Pico [link];
  • No fim de maio de 2015 foi anunciado o fim das escalas no porto do Cais do Pico [link] mas, em junho de 2015, o Governo Regional dos Açores deu instruções para repor as escalas em São Roque do Pico, nomeadamente em todos os dias da semana exceto às quartas e quintas-feiras, dias em que geralmente operam os navios porta-contentores [link];
  • Para as maiores festas do concelho de São Roque do Pico, o Festival "Cais Agosto", houve uma viagem extra para esta vila, um cancelamento devido à operação de um porta-contentores e ainda dois dias sem escalas apesar de o porto do Cais do Pico estar vazio [link];
  • Durante o verão de 2015, diversas escalas foram canceladas em São Roque do Pico sem razões aparentes para tal [links - mais informações | exemplo 1 | exemplo 2 | exemplo 3];
  • Em setembro de 2015 ocorreu o cancelamento mais caricato de todos, mesmo à beira do porto do Cais do Pico (literalmente), tendo os passageiros desembarcado a 20 km de distância e tendo lhes sido pago um taxi até São Roque do Pico [link];
  • Em outubro de 2015, não só continuaram os cancelamentos no porto do Cais do Pico sem explicações detalhadas para o sucedido [link], como também a Atlânticoline deixou de publicar no seu website estes comunicados relativos ao cancelamento de escalas em São Roque do Pico, apresentado-os apenas no Facebook, o que limita o alcance destes avisos aos possíveis interessados [link para exemplo];
  • Finalmente, deste 1 de novembro de 2015 e até 14 de junho de 2016, o porto do Cais do Pico apenas tem sido e será escalado às sextas-feiras, sábados e domingos [link].
Em suma, parece que a Atlânticoline esticou ao máximo o metro quadrado interdito, praticamente tornando todo o porto do Cais do Pico, na vila de São Roque do Pico, num porto onde parece que "não se pode tocar" com os seus navios Gilberto Mariano e Mestre Simão...

Por outro lado, a Portos dos Açores continua sem efetuar qualquer obra no porto do Cais do Pico. É caso para dizer que este porto, que já foi classificado como um porto do outro mundo, arrisca-se agora a entrar para o Guinness World Records por ter interdito o maior metro quadrado do mundo!

Haja saúde!

Post scriptum: Aqui fica um contador de quanto tempo já passou desde que a rampa ro-ro do porto do Cais do Pico deixou de ser utilizada pelos navios Gilberto Mariano e Mestre Simão, ambos da Atlânticoline, sem que a Portos dos Açores tenha efetuado qualquer obra para reverter esta situação.

Post post scriptum: Um ano e 100 dias depois do acidente (mais de 15 meses), (finalmente) novos cabeços são encomendados para o porto do Cais do Pico.

Post post post scriptum: Um ano e 175 dias depois do acidente (cerca de 18 meses), (finalmente) o porto do Cais do Pico tem novos cabeços - este acontecimento implicou fazer stop ao contador.

4 comentários:

  1. Apertem com eles.
    Quem é penalizado, quem paga impostos e quem necessita de utilizar esse cais, deve apertar com quem de direito.
    É sempre tudo à grande e nunca ninguém quer saber de nada.

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  2. E ontem, 27 de Dezembro, o barco de passageiros apenas fez uma escala neste porto de São Roque. Aqui da minha janela, o vi atracar, vindo do lado da Madalena, e o vi sair para as Velas. Mas a viagem de regresso das Velas, não foi feita por aqui, no porto de São Roque. Da minha janela o vi passar pelo canal abaixo,....talvez Madalena, o porto de conveniencia, para estes ""novos mestres de água doce"". Por curiosidade fui junto ao porto ver o mar, pois já era noite, não conseguia ver da janela, o mar estava calmo, sem ondulação, optimo para fazer serviço.
    Será que "os mestres de água doce", estão a ficar no mesmo rol dos ficais de obras públicas??

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  3. Há comentários em que ás vezes é melhor estar calado/a, do que comentar... Sra. Comandante Picarota.

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  4. Neste momento a ilha do pico é só Madalena o resto não serve para nada enfim é a política que nós temos ou melhor é os políticos que nós temos na ilha .. enfim !!

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